domingo, 30 de agosto de 2015

As adversidades do campo: o agricultor, a abelha e as batatas.


É plantar pra ver. É colher para crer. Ser agricultor hoje é tarefa árdua e dispendiosa. Quem come batata, mau sabe o suor e o capital acumulado naquele tubérculo.
 Parece-nos que os preços dos alimentos só aumentam e é um erro pensar assim, esquecemos de considerar a inflação. Existe uma curva, negativamente inclinada, que mostra que ao longo do tempo os preços dos produtos agrícolas estão queda. Mas como assim, se a cada ano o pacote de arroz encarece? A cada ano a renda das pessoas, no geral, aumenta e com mais dinheiro as pessoas querem comprar mais e, entendendo um pouco de economia, se existem muitas pessoas querendo comprar algo, seu preço tende a subir, pois de imediato não há produto para todos. Se a cada ano os preços dos produtos agrícolas caem, como fica o produtor? Os preços em tendência de queda, concorrentes, latifundiários, mudanças climáticas, alternativas mais rentáveis e mesmo assim continuar a produzir. Como explicar?
A abelha, asas pequenas demais, corpo robusto e desproporcional, desconhece as leis da aerodinâmica e teima em voar. O agricultor se conhecesse um pouco de economia, abandonaria sua atividade irremediavelmente. Entretanto sua contribuição é indispensável. É necessário, incessantemente, trazer o agricultor a níveis tecnológicos cada vez mais avançados para minimizar ao máximo as adversidades que encontra em sua atividade e não acabar com seus sonhos.
O agricultor não produz alimento, produz produto agrícola. Arroz é grão até antes de você o cozinhar. Maçã é fruta até você ingerir. Alimento é aquilo que você consome com esse fim. Por isso, muitas vezes nos chocamos com descarte de batatas em um aterro sanitário, mas não opinamos sobre destruição de centenas de smartphones falsificados. Ambos são produtos, mas atribuímos valor e significados diferentes a eles. Ao descartar sua produção de batatas devido ao preço ínfimo que não remunera nem o gasto variável envolvido, o agricultor não pode ser visto como o vilão, ele está tentando sobreviver. Ele não produziu para doar as suas batatas.
Os preços, as condições climáticas, a questão da água, os custos e a eficiência na produção e gestão da atividade fazem do agronegócio um setor que ao mesmo tempo move o capitalismo, afinal todos precisamos comer, a sua produção sofre constantes ameaças. O agricultor tem que conhecer de produção e de função de produção (economia). A abelha deve continuar a voar, ela só faz isso porque supera as dificuldades. E as batatas, o que fazer: vender ou jogar fora? As batatas, devemos produzir, pois seu fim nem mesmo elas sabem.


Texto inspirado em ideias de Ricardo Abramovay e de José Ambrósio F. Neto.
Victor Sérgio dos Santos, bacharel em Agronegócio, UFV
Viçosa, Minas Gerais, Brasil.