As adversidades do campo: o agricultor, a abelha e as batatas.
É plantar pra ver. É
colher para crer. Ser agricultor hoje é tarefa árdua e dispendiosa. Quem come
batata, mau sabe o suor e o capital acumulado naquele tubérculo.
Parece-nos que os preços dos alimentos só
aumentam e é um erro pensar assim, esquecemos de considerar a inflação. Existe
uma curva, negativamente inclinada, que mostra que ao longo do tempo os preços
dos produtos agrícolas estão queda. Mas como assim, se a cada ano o pacote de
arroz encarece? A cada ano a renda das pessoas, no geral, aumenta e com mais
dinheiro as pessoas querem comprar mais e, entendendo um pouco de economia, se existem
muitas pessoas querendo comprar algo, seu preço tende a subir, pois de imediato
não há produto para todos. Se a cada ano os preços dos produtos agrícolas caem,
como fica o produtor? Os preços em tendência de queda, concorrentes,
latifundiários, mudanças climáticas, alternativas mais rentáveis e mesmo assim
continuar a produzir. Como explicar?
A abelha, asas
pequenas demais, corpo robusto e desproporcional, desconhece as leis da
aerodinâmica e teima em voar. O agricultor se conhecesse um pouco de economia,
abandonaria sua atividade irremediavelmente. Entretanto sua contribuição é
indispensável. É necessário, incessantemente, trazer o agricultor a níveis
tecnológicos cada vez mais avançados para minimizar ao máximo as adversidades
que encontra em sua atividade e não acabar com seus sonhos.
O agricultor não
produz alimento, produz produto agrícola. Arroz é grão até antes de você o
cozinhar. Maçã é fruta até você ingerir. Alimento é aquilo que você consome com
esse fim. Por isso, muitas vezes nos chocamos com descarte de batatas em um
aterro sanitário, mas não opinamos sobre destruição de centenas de smartphones
falsificados. Ambos são produtos, mas atribuímos valor e significados
diferentes a eles. Ao descartar sua produção de batatas devido ao preço ínfimo que
não remunera nem o gasto variável envolvido, o agricultor não pode ser visto
como o vilão, ele está tentando sobreviver. Ele não produziu para doar as
suas batatas.
Os preços, as
condições climáticas, a questão da água, os custos e a eficiência na produção e
gestão da atividade fazem do agronegócio um setor que ao mesmo tempo move o
capitalismo, afinal todos precisamos comer, a sua produção sofre constantes ameaças.
O agricultor tem que conhecer de produção e de função de produção (economia). A
abelha deve continuar a voar, ela só faz isso porque supera as dificuldades. E as
batatas, o que fazer: vender ou jogar fora? As batatas, devemos produzir, pois
seu fim nem mesmo elas sabem.
Texto inspirado em
ideias de Ricardo Abramovay e de José Ambrósio F. Neto.
Victor Sérgio
dos Santos, bacharel em Agronegócio, UFV.
Viçosa, Minas Gerais, Brasil.